Caso de racismo em superclássico pode paralisar o Gauchão de Futsal, alerta presidente da Liga Gaúcha
Nelson Bavier, em entrevista revela que o incidente ocorrido durante o clássico entre Guarani e AFUCS pode resultar na suspensão das competições até que o julgamento do caso seja concluído pelo TJD-RS
Publicado em 06/09/2024 às 16:37
Atualizado em 06/09/2024 às 16:40
Capa Caso de racismo em superclássico pode paralisar o Gauchão de Futsal, alerta presidente da Liga Gaúcha

Foto de Renato Padilha / Guarani Futsal

A 20ª edição do superclássico entre Guarani Futsal e AFUCS de Seberi, realizada na noite de sábado, 31 de agosto, no Ginásio Júlio Gemelli, foi marcada por um caso de racismo que interrompeu abruptamente o clima intenso e equilibrado do jogo. A partida, que contou com grandes defesas dos goleiros Léo Santos, do Guarani, e Léo, da AFUCS, viu o seu ritmo ser interrompido no início do segundo tempo, quando ocorreram atos de racismo direcionados ao goleiro Léo Santos e ao treinador Raphael Melo, ambos do Guarani Futsal.

Conforme as informações divulgadas pela AFUCS, o incidente teria sido provocado por um torcedor menor de idade, que foi prontamente identificado e retirado das dependências do ginásio. Já a versão oficial do Guarani aponta para a participação de dois torcedores nos atos racistas. Após o ocorrido, o Guarani Futsal decidiu não retornar à quadra, interrompendo a partida. Tanto o Guarani quanto a AFUCS emitiram notas oficiais condenando veementemente o ato de racismo, reforçando seus posicionamentos contra qualquer forma de discriminação. A AFUCS lamentou profundamente o ocorrido, enquanto o Guarani destacou seu total apoio aos profissionais envolvidos, enfatizando que atitudes como essa são inaceitáveis no esporte e na sociedade.

 

As palavras de Raphael Melo

Na última quarta-feira, 4 de setembro, o técnico do Guarani Futsal, Raphael Melo, trouxe à tona novos detalhes sobre o caso de injúria racial ocorrido durante o superclássico contra a equipe da AFUCS, em Seberi. Em entrevista ao programa LA FC, Melo relatou que, além do goleiro Léo Silva, ele próprio também foi vítima de ofensas racistas por parte de torcedores adversários. A equipe do Guarani, ao perceber a gravidade da situação e a falta de segurança adequada no ginásio, decidiu abandonar a quadra, o que pode resultar na perda de seis pontos no campeonato.

Durante a entrevista, Raphael Melo afirmou que o goleiro Léo Silva foi alvo de injúria racial logo no início do segundo tempo, o que o abalou profundamente. Léo teria comunicado o fato ao árbitro da partida, que, segundo Melo, não soube como agir naquele momento. A indignação do treinador aumentou ao perceber que o incidente não foi corretamente relatado na súmula do jogo, o que, para ele, configura uma omissão grave.

Melo ressaltou que essa não foi a primeira vez que um episódio de racismo ocorre em Seberi. Ele mencionou que, em seu primeiro ano à frente do Guarani, já havia presenciado um ato semelhante em um amistoso, no qual um atleta da sua equipe foi alvo de injúrias raciais. Para o treinador, a repetição desses atos demonstra a impunidade com que crimes dessa natureza são tratados, tanto pelas autoridades presentes quanto pelos organizadores da competição.

 

 

Clima de tensão e abandono da partida

Raphael Melo explicou que, após o relato do goleiro, a equipe se retirou para o vestiário em busca de proteger seus jogadores e tentar acalmar a situação. No entanto, ao voltar à quadra para resgatar sua filha, que estava na arquibancada, o treinador foi novamente alvo de insultos racistas, desta vez por parte de uma torcedora. “Aquele momento trouxe de volta toda a indignação, como se o crime continuasse a ser cometido impunemente, mesmo após termos interrompido o jogo devido a um ato racista”, relatou o treinador.

Melo ainda revelou que, durante o ocorrido, o árbitro foi “covarde e omisso”, não tomando nenhuma medida significativa para conter a situação. O técnico deixou claro que, ao ignorar o incidente, o árbitro tornou-se conivente com o crime e, por isso, também deve ser responsabilizado. Ele criticou, ainda, que a súmula do jogo mencionou a chegada da Brigada Militar, o que, segundo ele, não ocorreu durante o tempo em que a equipe do Guarani permaneceu no local.

 

Consequências e desdobramentos

A decisão do Guarani de abandonar a partida pode trazer sérias consequências para o clube, que arrisca perder seis pontos no campeonato, o que pode comprometer sua posição na tabela. Para Raphael Melo, porém, a questão vai além da parte técnica: “Enquanto não houver medidas drásticas contra crimes como o racismo, esses atos continuarão a acontecer, porque as pessoas acreditam que sairão impunes”.

Agora, o caso segue para análise do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RS), que deverá se pronunciar sobre as ações cabíveis. Contudo, Melo destaca que, independentemente do resultado, o mais importante é que situações como essa sejam tratadas com a seriedade que merecem, tanto no esporte quanto na sociedade em geral.

 

As palavras de Dione Junges

Na quarta-feira, 4, o diretor de esportes da AFUCS, Dione Junges, lamentou episódio de racismo sofrido pelo goleiro Léo Silva e rebateu as alegações feitas pelo técnico do Verdão, Raphael Melo. Junges destacou que o incidente foge ao controle da diretoria e reiterou o apoio oferecido ao atleta no momento do ocorrido.

“A gente lamenta muito o que aconteceu, né? Infelizmente, é algo que escapa à responsabilidade da diretoria, tanto da AFUCS quanto de outros clubes. Nosso papel é lamentar e combater esse tipo de comportamento, que não tem mais espaço, nem no futsal, nem em nossa comunidade”, disse o diretor.

 

Junges informou que, assim que o goleiro Léo Silva identificou o torcedor responsável pelo ato de racismo, a equipe da AFUCS agiu imediatamente, retirando o infrator do ginásio e registrando suas informações. “O torcedor, que é menor de idade, chegou a pedir desculpas. Nós respeitamos essa decisão, afinal, é impossível para nós nos colocarmos no lugar dele”, afirmou Junges.

Quanto às contradições nas versões apresentadas, o diretor foi enfático em afirmar que viu o goleiro identificar o torcedor e que isso foi registrado na súmula da partida. “Eu estava ao lado do Léo quando ele apontou o infrator. Não estou inventando nada. O que me causa estranheza é que, após descer ao vestiário e retornar, o goleiro afirmou que não o reconhecia mais”, acrescentou.

Sobre as possíveis sanções ao Guarani pela retirada da equipe de quadra, Junges destacou que a questão está nas mãos do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) e das autoridades policiais. “Racismo é crime, e quem cometeu foi o torcedor, não o clube. Identificamos o infrator e aguardamos o julgamento. Esperamos que o TJD faça uma análise justa, já que, conforme os árbitros, havia condições de continuar o jogo”, concluiu.

 

O que diz o presidente da Liga Gaúcha de Futsal?

Em entrevista exclusiva à Rádio Luz e Alegria, no LA FC, o presidente da Liga Gaúcha de Futsal, Nelson Bavier, ressaltou a gravidade do episódio e destacou que, além do impacto emocional e moral, o caso pode ter consequências diretas para o andamento das competições. Bavier afirmou que o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RS) deverá notificar a entidade sobre o julgamento, e que a previsão é de que tanto o Gauchão 2024 quanto a Copa dos Pampas só sejam concluídos no início de 2025. “Existe uma possibilidade real de paralisação da competição até que o julgamento seja totalmente finalizado, respeitando todos os prazos e possíveis recursos”, afirmou o presidente.

Bavier também refletiu sobre o papel da Liga Gaúcha na condução de situações tão delicadas, ressaltando que a responsabilidade da entidade é garantir que atos de discriminação não sejam tolerados. “Não podemos permitir que casos como esse ocorram em nenhuma instância do esporte. É um momento de reflexão, e precisamos melhorar continuamente nossas ações para combater essas atitudes”, declarou.

 

Sobre a investigação

A Polícia Civil de Seberi informou que as investigações estão em andamento, mas, devido à “medida do silêncio” adotada pela Associação dos Delegados de Polícia do Estado (Asdep), que impede a divulgação de informações desde julho, mais detalhes sobre o caso não puderam ser repassados à reportagem.

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